quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Cineclube Sesi retoma as atividades dia 17 de janeiro

O Cineclube Sesi retoma as atividades na sala Multiartes do Sistema Fiep (agora com nova estrutura) apresentando o ciclo "Theo Angelopoulos e a mise-en-scène moderna". O ciclo começa no dia 17 (excepcionalmente às 18h30) com o filme "A Viagem dos Comediantes"e consiste numa pequena homenagem tardia ao maior expoente do cinema grego, que morreu no dia 24 de janeiro de 2012 (precisamente, um ano antes da sessão de "Um Olhar a Cada Dia"). Através dos três filmes selecionados vamos ter um vislumbre da trajetória desse cineasta e da sua concepção única de encenação. Para Angelopoulos o cinema era uma manifestação heróica, seus planos-sequência, travellings e panorâmicas carregam a História do ocidente nas costas de viajantes melancólicos.

Cineclube Sesi apresenta: Theo Angelopoulos e a mise-en-scène moderna
Talvez a grande diferença entre o cinema clássico e o moderno seja que no primeiro todos os jogos e experimentações com a linguagem cinematográfica estão em função da história: movimentos de câmera, enquadramentos, cortes e mise-en-scène agregam sempre uma função narrativa. Para os autores que seguem esta tradição, a liberdade e a criatividade são valores equivalentes ao de qualquer outra (vanguarda, modernismo, fluxo), desde que estejam dentro do projeto de contação da história, dando-lhe andamento, estabelecendo desvios, rupturas e muitas vezes transcendendo-a.
Para os modernos a história ainda é central, mas a ela se agregam intenções exteriores - expressivas, abstratas, poéticas, pictóricas, políticas, estéticas, intelectuais, sensoriais - que a dissolvem num caldo criativo complexo.
Tomemos por exemplo a mise-enscène, da maneira como foi concebida por Andre Bazin e a crítica francesa dos anos 50. Em realizadores como John Ford (paradigma clássico), a disposição de personagens e objetos em cena, suas relações com a câmera, com o fora de campo e entre si, seus movimentos dentro do plano e entre os planos, convidavam quase sempre a um olhar ancorado na cadeia significativa do drama: Quem são estes personagens no espaço? Quais são suas histórias? O que os move? São questões que o silêncio das imagens sustentam, muito além das respostas nas ações e diálogos.
Em contrapartida, o que "dizem" as composições desdramatizadas de Michelangelo Antonioni, os movimentos "espirituais" de Andrei Tarkovsky, a austeridade dos tableux de Jean-Marie Straub? Do ponto de vista narrativo, nada. A mise-en-scène moderna se desenrola em outro lugar e "comunica" (palavra inapropriada) outras coisas. Mas o quê?
Para enfrentar esta questão, nada mais apropriado que iniciarmos  pela investigação do estilo naquele que foi considerado o mais importante diretor de planos-sequencia (longos trechos de filme em que toda aunidade ação/tempo/espaço se encerra entre o corte inicial e o final do plano) de seu tempo: o grego Theodoros Angelopoulos.
Iniciando nos anos 70, Angelopoulos foi um moderno tardio. Chega ao cinema no tempo da autoconsciência absoluta do estilo. Em função disto, e de sua formação humanista/mítica, figura-se em pouco mais de 40 anos como um dos grandes autores do cinema.
Sua leitura heróica da História e sua técnica ao mesmo tempo emocional e desdramatizada transforma suas narrativas em exercícios expressivos e pictóricos fascinantes, nos quais a encenação materializa uma espécie de espetáculo do desencanto.
Como escreveu o teórico David Bordwell, a mise-en-scène de Angelopoulos prova que o velho modernismo cinematográfico ainda pode abrir nossos olhos.

Miguel Haoni
(Cineclube Sesi, 2013)
 
 

Programação:
17/01 (excepcionalmente às 18h30) - A Viagem dos Comediantes
24/01 - Um Olhar a Cada Dia
31/01 - Vale dos Lamentos

Serviço:
Sessões às quintas-feiras
às 19h30 (excepcionalmente dia 17)
Sala Multiartes do Centro Cultural do Sistema Fiep
(Av. Cândido de Abreu, 200, Centro Cívico)
ENTRADA FRANCA

Realização: Sesi
Apoio: Processo Multiartes

Mais informações:

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