quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O Cinema da idealização


(Notas sobre o filme Pulp Fiction de Quentin Tarantino)


O inicio de Pulp Fiction remete a Cães de Aluguel de forma quase ritual: a conversa na lanchonete (Pumpkin e Honey Bunny, assaltantantes), créditos com trilha sonora interrompida (mudança de estação de rádio, os gritos de Mr. Orange), dialogo no carro (Jules e Vicent, Orange e White). O diferencial entre os dois surge na explosão de violência na primeira cena, esta que reflete toda a estrutura do filme.Tarantino joga outra vez com a desconstrução narrativa o filme é divido em quatro episódios, neles o acaso surge como rolo compressor destruindo e minimizando o objetivo dos personagens e da narrativa.

Em Cães de Aluguel os conflitos são dominados pela palavra, em Pulp Fiction as palavras antecedem o conflito. Na cena da lanchonete o casal discute sobre banalidades logo que o dialogo termina a explosão de violência começa. Na conclusão, a ultima parte do filme, o acaso joga Vicent e Jules na mesma lanchonete criando assim um conflito que desfoca o objetivo inicial que é assaltar o lugar, a redenção de Jules transforma o embate em negociação seguido de uma redenção do casal. Todos os episódios funcionam desta mesma forma: diálogo, violência e negociação.

Todo romantismo noir do universo do crime é desmistificado através das conversas banais e a postura dos personagens que assumem seus papeis de uma forma irônica. Logo platéia, autor e obra compactuam no que seria a imagem idealizada desse universo. Personagens de cinema acreditando na idealização do cinema e agindo como tal, surgindo assim uma dupla performance, quase uma parodia. Ao vermos John Travolta dançando ou David Carradine fazendo “Bill” evocamos o lado mítico do mundo do cinema, do qual Tarantino e seu universo acreditam e fazem parte.

Max Andreone
(APJCC – 2010)

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