terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Oficina de crítica cinematográfica: Problemas contemporâneos


Cinema é a arte das imagens em movimento. Como arte é o canal de expressão de homens e mulheres que concebem o mundo sob um prisma poético. Como imagens é o espelho da humanidade nos últimos 120 anos: suas ilusões, vergonhas, vitórias e medos projetados em 24 quadros por segundo. E como movimento é a música da luz, a montanha russa nas mais impressionantes paisagens do inconsciente.

Tudo isso, porém, quase sempre passa batido na nossa convencional fruição de filmes. A dieta viciada de audiovisual imposta pela indústria de imagens nos impede de observar o universo por trás dos "roteiros e atuações".

Nesse sentido a Oficina de Crítica Cinematográfica: Problemas Contemporâneos, ministrado por Miguel Haoni (do Coletivo Atalante), propõe, com a ajuda da História Contemporânea e da Filosofia da Arte, lançar outro olhar sobre o fenômeno audiovisual artístico.

A oficina pretende observar como diferentes cineastas concebiam a arte em contextos chave de sua história recente. A partir do debate crítico, leitura de textos e análise de filmes investigaremos de que maneira esta linguagem de imagens é tecida na construção de discursos e sensações, configurando parte fundamental de nossa experiência no mundo contemporâneo.

1° Unidade: Cinema hitchcockiano: A influência dos filmes de Alfred Hitchcock no cinema moderno e contemporâneo;

2° Unidade: Cinema publicitário brasileiro: Uma análise sobre a crise ética-estética no cinema brasileiro dos últimos anos;

3° Unidade: O caso Pedro Costa: Investigação do projeto estético de um dos mais importantes cineastas portugueses.

Sobre a oficina:
Oficina de crítica cinematográfica: Problemas Contemporâneos (ministrada por Miguel Haoni do Coletivo Atalante) oferecerá uma abordagem teórica do cinema a partir do estudo de textos fundamentais e da apreciação de filmes. Filmes e textos, permitirão um percurso geral e específico em alguns capítulos essenciais da história recente do cinema.

Começaremos abordando a herança dos filmes de Alfred Hitchcock no cinema moderno e contemporâneo a partir dos projetos de José Luis Guerín, Chantal Akerman, Stanley Kubrick, Brian De Palma, Dario Argento entre muitos outros.

Na sequência estudaremos a ascensão do modelo publicitário no cinema brasileiro recente e seu contraponto nos filmes de cineastas veteranos, avaliando a crise estética decorrente desta fratura.

Por fim, uma entrada no cinema português contemporâneo apresentado nos filmes de Pedro Costa. Mais especificamente a trilogia das "Cartas de Fontainhas", produto do encontro entre o cineasta e os imigrantes cabo verdianos nas favelas de Lisboa.

Com este recorte, ao mesmo tempo amplo e restrito, a Oficina pretende a formação do olhar crítico com embasamento histórico sobre a arte cinematográfica e suas diversas dimensões.


Programa:
Sobre o "mestre do suspense":
"A arte de criar o suspense é ao mesmo tempo a de botar o público 'por dentro da jogada', fazendo-o participar do filme. Nesse terreno do espetáculo, um filme não é mais um jogo que se joga a dois (o diretor + seu filme) e sim a três (o diretor + seu filme + o público), e o suspense, como as pedrinhas brancas do Pequeno Polegar ou o passeio de Chapeuzinho Vermelho, transforma-se em um elemento poético, já que seu objetivo é nos emocionar mais, é levar nosso coração a bater mais forte. Censurar Hitchcock por fazer suspense equivaleria a acusá-lo de ser o cineasta menos maçante do mundo, equivaleria também a criticar um amante por dar prazer à sua parceira em vez de só se preocupar com o seu."
(François Truffaut, Introdução do livro Hitchcock/Truffaut: entrevistas)

Sobre o cinema publicitário:
"Desde a sua saída, Le Grand Bleu incomodou os profissionais da cinefilia. Demasiado inconsistente do ponto de vista estético, o filme tornou-se esta coisa triste: um fenômeno social. Não é portanto o fenômeno que foi analisado mas sim o que revelava do seu público jovem que, radiante, o via, a ele, dez vezes. Ora Le Grand Bleu não é, como Jean de Florette ou Camille Claudel, o lifting acadêmico de um cinema cujo prazo acabou há muito, nem um enorme sintoma cujas falhas estéticas obrigam a abandoná-lo aos sociólogos. Se deu a tal ponto a sensação de “acertar” foi precisamente porque tinha qualquer coisa a ver com a estética. A única questão é saber se se trata ainda da do cinema. Voltemos à água e mergulhemos mais à frente. O que é desarmante em Le Grand Bleu é a forma como Besson parece contentar-se com o look que o mar há muito tempo tem em todo e qualquer spot publicitário (lembremo-nos do aterrorizador Ultra-Brite). Menos por inaptidão a filmá-lo do que porque o mar, para ele, é isso: um “grande azul” de síntese no qual se “hidrodesliza” sem fazer ondas."
(Serge Daney, O cinema e a memória da água)

Sobre o cinema de Pedro Costa:
"Esta relação entre a grande arte e a arte de viver dos pobres, é o tema do filme. Uma ilustração espectacular é o episódio da visita ao museu, se é que se pode chamar de visita: de facto, o filme transporta-nos sem transição narrativa para uma sala da Fundação Gulbenkian onde Ventura já se encontra, apoiado na parede, entre o Portrait d'Hélène Fourment de Rubens e oPortrait d'homme de Van Dyck. Silenciosamente, um empregado do museu, negro, como o funcionário da câmara municipal, vem dizer a Ventura que saia, tirando um lenço para limpar as marcas do intruso no chão, tal como o funcionário público já tinha feito, limpando as manchas da sua cabeça da parede branca do apartamento novo. Mais tarde vem buscar Ventura, sentado meditativo num sofá Régence, e fá-lo sair, sempre em silêncio, pela porta de serviço. O segurança está satisfeito com o seu trabalho: não tem nada a ver com a fauna cosmopolita e trafulha dos hipermercados. Aqui, diz ele sobriamente a Ventura, temos paz, a não ser quando vêm pessoas como nós, o que é raro. Ventura não revela ao que vem. Sentado abaixo dele e sem o olhar, com as árvores do jardim em fundo, Ventura fala do país de onde veio, do pântano que era este terreno cheio de sapos que se multiplicavam, terreno que ele cavou e limpou, e onde colocou pedras e relva, apontando então com um gesto imperial, o lugar de onde um dia caiu do andaime. Não se trata de opôr o suor e as dores dos construtores de museus ao prazer estético dos ricos. Trata-se de confrontar história com história, espaço com espaço e palavra com palavra."
(Jacques Rancière, A carta de Ventura)

Referências bibliográficas:
CABOS, Ricardo Matos (org.). Cem Mil Cigarros - Os filmes de Pedro Costa. Lisboa: Orfeu Negro, 2010.
Contracampo revista de cinema: http://www.contracampo.com.br/
OLIVEIRA JR, Luiz Carlos. Vertigo, a teoria artística de Alfred Hitchcock e seus desdobramentos no cinema moderno. São Paulo, 2015.

Referências fílmicas:
A Erva do Rato. Julio Bressane. BRA. 2008. cor. 80 min.
Falsa Loura. Carlos Reichenbach. BRA. 2007. cor. 103 min.
Juventude em Marcha. Pedro Costa. POR. 2006. cor. 156 min.
No Quarto da Vanda. Pedro Costa. POR. 2000. cor. 179 min.
Síndrome Mortal. Dario Argento. ITA. 1996. cor. 120 min.
Unas fotos en la ciudad de Sylvia. José Luiz Guerín. ESP. 2007. p&b. 67 min.

Serviço: Carga horária: 24 horas
dias 18, 19, 20, 21, 25, 26, 27 e 28 (segunda quinzena de janeiro)
de segunda a quintadas 19 às 22 horasno Núcleo Cine(Rua Belém, 888 - Cabral- Curitiba/PR)
Inscrições pelo email: coletivoatalante@gmail.com
Investimento: R$120,00
VAGAS LIMITADAS
Realização: Núcleo Cine e Coletivo Atalante 

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